Alexia Putellas e Irene Paredes confirmam que jogadoras se aprentaram sob protesto mas que decidiram ficar para proteger as mais jovens
Gotemburgo, Suécia - A Espanha enfrenta a Suécia nesta sexta-feira no primeiro jogo após conquistar a Copa do Mundo Feminina, mas em vez de um clima de celebração e orgulho as jogadoras entrarão em campo sob protesto, expondo todo o seu descontentamento com a gestão da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).
Em entrevista coletiva nesta quinta, já em Gotemburgo, local da partida pela Liga das Nações da Uefa, duas das líderes do grupo, a atacante Alexia Putellas e a zagueira Irene Paredes, reforçaram o desejo por mudanças profundas na federação, uma reivindicação antiga do grupo, que agora pode ser feita de forma mais contundente graças ao status obtido pelas jogadoras após o título mundial.
Ano passado, 15 jogadoras já tinham renunciado à seleção, em protesto contra as condições de trabalho oferecidas pela RFEF e a gestão de grupo do técnico Jorge Vilda, que incluía situações consideras inapropriadas pelo elenco, como a obrigação de aguardar, com a porta do quarto destrancada, a conferência do treinador para garantir que as jogadoras estavam em seus aposentos nas viagens.
Algumas jogadoras que assinaram o manifesto aceitaram retornar à seleção para jogar a Copa, e mesmo a conquista do título mundial não foi suficiente para encerrar a crise. Ao contrário, trouxe novos elementos que aumentaram a ruptura entre jogadoras e federação.
Beijo e aplausos a Rubiales geram reação das jogadoras
O beijo dado sem consentimento na atacante Jenni Hermoso pelo agora ex-presidente da RFEF, Luis Rubiales, durante a comemoração do título mundial no palco montado no Estádio Olímpico de Sydney, foi apenas o capítulo mais midiático de um pesadelo que vem de longe e prosseguiu nas semanas seguintes, ofuscando a conquista das jogadoras.
Para Alexia, as reações iniciais ao episódio na federação, principalmente os aplausos a Rubiales na assembleia geral, quando ele disse que não renunciaria ao cargo, mostraram às jogadoras que era preciso ser ainda mais contundentes no protesto. Foi justamente após o discurso de Rubiales que 39 jogadoras emitiram uma nota pedindo para não serem chamada s para os jogos contra Suécia, nesta sexta, e Suíça, na próxima terça, em Córdoba. Posição que não mudou mesmo depois de Rubiales abdicar da presidência da federação.
- Na final da Copa aconteceram coisas inadmissíveis e com o que ocorreu depois na Assembleia dissemos que isso não podia acontecer, que não podíamos continuar por este caminho, tínhamos que mostrar tolerância zero. Por ela (Jenni Hermoso), por nós e para marcar precedentes na nossa sociedade e no mundo - afirmou Alexia, de acordo com reportagem do jornal espanhol “Marca”.
Simplesmente denunciamos e pedimos por favor que na federação, que é de todos os espanhóis, haja uma tolerância zero com pessoas que tenham escondido, aplaudido ou incitado um abuso. Simplesmente pedimos isso.
— Alexia Putellas, atacante da seleção feminina da Espanha
As líderes da seleção garantiram que não pretendem pedir a saída da nova técnica da seleção, Montse Tomé, mesmo após a ex-auxiliar de Jorge Vilda ter chamado para as partidas 19 jogadoras que assinaram o manifesto contra a convocação.
As jogadoras se apresentaram sob protesto, para evitar possíveis sanções judiciais, e passaram os últimos dias, que deveriam ser de preparação para a partida, em extensas reuniões não só com a federação como com o Conselho Superior de Esportes da Espanha.
Após as negociações, quase todas as jogadoras aceitaram permanecer na seleção, com exceção da zagueira Mapi León e da meia Patri Guijarro, que já não tinham disputado a Copa devido às desavenças com o então treinador e diretor esportivo Jorge Vilda.
Veteranas ficam na seleção para proteger as mais jovens
Na coletiva desta quinta, Irene Paredes explicou que a decisão de permanecer na seleção tem duas razões principais: um voto de confiança nas mudanças prometidas pela federação e, principalmente, para proteger as jogadoras mais jovens que, em caso de desistência coletiva, acabariam sendo chamadas para as partidas.
- Fomos obrigadas a vir, aceitamos as reuniões e a partir daí tomamos a decisão de ficar. Não porque estamos gostando, mas sim porque acreditamos que é o que temos que fazer para que isso começe a avançar. Além disso, temos uma responsabilidade com a Sub-23, sabíamos que se renunciássemos (a jogar) passaríamos a bomba para elas - declarou Irene.
- Sabemos que há coisas que levam um tempo, que eles (na federação) se comprometeram e somos conscientes. Ainda que (as mudanças) demorem, se farão - completou.
Suecas prometem apoio público à Espanha
Adversárias desta sexta, as jogadoras suecas já afirmaram em entrevistas que desejam demonstrar publicamente seu apoio à luta das espanholas.
- Essa luta é incrivelmente importante para elas, não é só uma questão esportiva mas também social. Elas contam com todo nosso apoio, e do mundo inteiro. Vamos apoiá-las, temos um plano de como fazer isso e faremos de forma conjunta - afirmou a atacante sueca Kosovare Asllani.